terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Isto deve nos inquietar!







Foi lançado no III Congresso Mundial de Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, realizado no Rio de Janeiro no final de novembro de 2008, o livro Os sete sentimentos capitais[1]. Este livro é resultado do esforço de vários atores em construir uma pesquisa que adentrasse em significados e pudesse "dar conta”, na medida do possível, do fenômeno da Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes em Fortaleza.
Este é um assunto que, particularmente, mobiliza minha atenção, da mesma forma que coloca em movimento minha indignação. Ao fazer sua leitura, também como parte de um trabalho, deparo-me com alguns números que são significados para nós moradores do Grande Bom Jardim.
Vejamos: a pesquisa envolveu o estudo com 328 crianças e adolescentes, nos vários espaços, territórios geográficos e simbólicos de nossa cidade. Dos dados colhidos, através de questionário e entrevistas de campo, 9,1%[2] afirmam que moram nos bairros que compõem o Grande Bom Jardim. Isso em proporção representa dizer que o Grande Bom Jardim, logo depois da Barra do Ceará com 13,1%, é um dos principais lugares de Fortaleza onde as meninas e os meninos explorados sexualmente, em caráter comercial, moram, é um dos principais lugares da cidade que tem, entre suas crianças e adolescentes, vítimas da exploração sexual, que servem ao comércio sexual e têm seus direitos humanos, sobretudo os direitos sexuais e o direito ao desenvolvimento, fortemente agredidos, negados.
Somente o bairro Bom Jardim, analisado separadamente, representa 4,9% do total de entrevistados/as, ficando, ainda assim, atrás da Barra do Ceará. Não se trata de se estabelecer um ranking, mas de se observar a expressão dessa problemática na realidade das crianças e adolescente de nossa comunidade, em que apenas um bairro, no caso o Bom Jardim, aponta uma significativa participação na expressão do fenômeno, e quando somamos a toda a região a dimensão preocupa mais.







É preciso que, de posse desses dados, possamos mobilizar uma atenção para este problema que objetivamente faz parte do nosso contexto social. É exigido que tomemos partido dessa e outras realidades que se somam na caracterização de situações que agridem nossa dignidade. E não esqueçamos também que da população de rua da cidade, dos meninos e meninas que circulam, não necessariamente moram, nas ruas de Fortaleza, a maioria tem sua origem do Grande Bom Jardim. Isso deve nos indignar e acionar em nós atitudes.


______
[1] Os sete sentimentos capitais: exploração sexual comercial de adolescentes / Glória Diógenes – São Paulo: Annablume, 2008.
[2] O resultado 9,1% foi uma soma, feita por mim, para dimensionar esta realidade em nossa região, a do Grande Bom Jardim.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Governo do Estado lançou Projeto Rio Maranguapinho na Granja Lisboa




O governador Cid Gomes e o secretário das Cidades, Joaquim Cartaxo, assinaram nesta segunda-feira (17/11), em solenidade no bairro Granja Lisboa a ordem de serviço que dá início às obras da primeira etapa do Projeto Rio Maranguapinho. Ao todo, 350 mil pessoas dos municípios de Fortaleza, Maranguape e Maracanaú serão beneficiadas com as obras de construção de cinco mil moradias, saneamento, construção de áreas de lazer e despoluição do rio Maranguapinho e seus afluentes. A ação é uma realização do Governo do Estado do Ceará, através da secretaria de Cidades, em parceria com o Governo Federal.
Serão investidos cerca de R$ 14.379.962,45, na construção do primeiro residencial (total de oito), e o prazo de execução da obra é de 18 meses. Já para as obras de esgotamento sanitário, serão dadas três ordens de serviço que beneficiarão cerca de 28 mil famílias de doze bairros de Fortaleza, ao longo da Bacia do Maranguapinho. Para essas obras, serão investidos R$ 43.597.603,11.
“Para mim, esse é um momento muito especial, porque começamos a, de fato, resolver os problemas das pessoas e a melhorar o seu cotidiano”, destacou Cid Gomes.
O Projeto Rio Maranguapinho envolve ações de remoção de famílias para conjuntos habitacionais dotados de infra-estrutura e serviços públicos; a construção de um lago (barragem) para controle de cheias; recuperação ambiental do rio e seus afluentes; urbanização das áreas remanescentes ao longo do rio e a realização de trabalho técnico social com a população diretamente beneficiada.
"O Projeto Rio Maranguapinho será a maior intervenção urbana no Ceará. Após concluído, a população que mora do lado oeste de Fortaleza ganhará um grande parque urbano, como opção de lazer”, afirmou Cartaxo.
Do total de R$ 395.709.204,92 a serem investidos para a execução total do projeto, R$ 277.978.179,09 virão do Governo Federal, com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e R$ 116.731.025,83 do Governo do Estado.

Créditos: Assessoria de Comunicação da Secretaria das Cidades
______________________
Ops, uma inquietação...
A propósito do lançamento, não nos percamos só na alegria, a nós, os morados e mais interessados, é cabível uma responsabilidade grande: acompanhar a obra, a execução dos gastos e os comprimisso ambientais previstos (que são muito mais caros). Então olho aberto e inquieto.

Uma inquietação


Este ano (2008), se minha memória não falha, o Grande Bom Jardim contou com a presença do Governador, Cid Gomes, pelo menos duas vezes. Não vou questionar, aqui, as obras que ele lançou, ainda, mas o aparato vindo para o lançamento: em todas às vezes uma animada banda de forró o acompanhou, como imagino que estas bandas não venham por cortesia, inquieta-me saber quanto elas cobram para os efêmeros espetáculos. E num é porque num gosto de forró, se fosse o Chico César faria o mesmo questionamento.
Acho que o valor dessas duas apresentações faria uma diferença ideal para o melhor funcionamento do Centro Cultural do Bom Jardim, que fecha as 20h por contingência de recursos, e se a proposta das bandas for animar as pessoas nos atos de inauguração ou assinatura de ordens de serviços, talvez a equipe do governado desconheça a imensidão de grupos de arte e/ou, mesmo, bandas que existem por aqui, que talvez participasse a um preço bem melhor ou mesmo ofertaria uma cortesia de sua arte ao nosso bairro.

As duas situações por mim lembrandas

-Inauguração do Escola Ícaro Moreira de Sousa;
-Lançamento do Projeto Rio Maranguapinho.

PS. Contudo, o preço da dúvida vai continuar, estão negando informações até aos deputados inquietos com atuação do Governo do Estado, imagine a mim?!

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Era uma vez um grupo de estudantes e artistas que, inquieto, resolveu implicar com a realidade política à sua volta


Luz no jardim
Mudar o mundo só depende de nós
Era uma vez um grupo de estudantes e artistas que, inquieto, resolveu implicar com a realidade política à sua volta

Erivaldo Carvalho da Redação24 Dez 2008 - 00h27min

Foi a quebra do silêncio. Uma prece política pregada para toda a comunidade. Um grito pelas vítimas da vida fácil dos políticos. Antes, era assim no Bom Jardim, na periferia de Fortaleza: eles chegavam. Suplicavam. Choravam, se fosse preciso. Apenas por votos, o pão de cada dia deles. Em anos pares, cantavam amor febril. Depois saíam. Nos anos ímpares, já eleitos, não aqueciam o irmão que rogava-lhe o pão. Negavam-lhe a partilha do poder. Ah!, se todos amassem como muitos maus políticos amam. Quão seria mais desigual, faminto e frio o mundo! Não existiria mais Natal. Então veio o “Movimento Não Dá Mais”, iniciativa de um grupo engajado por um mundo melhor. (Veja a continuação da matéria, na íntegra, no link do site do jornal O Povo http://www.opovo.com.br/opovo/politica/846008.html )




domingo, 21 de dezembro de 2008

Um pouco sobre nossa caminhada






Nós já andamos juntos ‘tem um bom pedaço’. Aqui, um bom pedaço tem a pretensão de significar o percurso de um caminho andado e servido à vida na ânsia de sua descoberta. Pois bem, já tem um tempo em que nós andamos juntos, vez por outra experimentamos novos caminhos, entram novas pessoas para andar conosco, mas o fato é que faz um bom pedaço que nos motivamos como grupo e partilhamos o anseio da descoberta de um mundo vasto de possibilidades, sobretudo as que parecem que não foram feitas para nós, e também as que inspiram, ou possam inspirar, mudanças de onde estamos.
O princípio aqui é ousar fazer da caminhada conjunta a força para mexer no que nos inquieta: somo inquietos e esta marca que vai caracterizar a natureza de nossa caminhada.
A história de nossa inquietude talvez seja um misto de encontros, encontros que perpassam nossas passagens pelo teatro, pela dança, pela arte, pelo CAIC, pela Edisca, pelo movimento social e pelo nosso bairro. Para melhor organizar o raciocínio, tentarei seguir uma cronologia, não muito ortodoxa e sem o compromisso com as datas, para tentar organizar um pouco de nosso percurso e da formação do Nosso Espaço enquanto Movimento.
Primeiro, talvez, estudar (a partir de 1999) no CAIC – Maria Alves Carioca fez com que muitos de nós encontrássemos, nos aproximássemos e compartilhássemos perspectivas de amigos, ora com causas política - no grêmio estudantil - , ora, principalmente, na disposição e na aptidão pelo teatro: este foi um dos encontros mais fundamentais.
Seguimos no teatro, porta ampla de descobertas, de curiosidade, de experimentação, nossa, com o de mais possível em nós mesmos; fizemos novos encontro e as primeiras observações sobre nossa comunidade, por meio de nossos esquetes tímidos, carentes de rigor profissional, mas feitos de com muita vontade, uma vontade imensurável de acertar, e podemos dizer, hoje, que bravamente acertamos: acertamos porque insistimos em continuar.
Nós seguimos para a Edisca (no final de 2002), apenas alguns, que se configurou como um espaço oportuno para que ampliássemos nossa experiência com a arte, com algumas reflexões importantes sobre nós, o mundo e nosso lugar de morada: nossa comunidade. Foi importante, também, para que fizéssemos mais encontros e tivéssemos muitas oportunidades que, de certo, nos serão relevantes toda a vida.
Realizados esses encontros com pessoas e idéia, começamos nossa primeira grande experiência: a Casa de Cultura (início de 2004). Foi um espaço alimentado pela força de nós, ainda adolescentes, dinamizando uma casa na Granja Lisboa, em parceria com a Associação das Prostitutas do Ceará, com diversas oficinas artísticas e trazendo várias reflexões sócio-culturais sobre o mundo e nossa comunidade. Nesta experiência contamos com a força de alguns dos que hoje fazem o Movimento Nosso Espaço, como a Eveline, o Ícaro, a Daniele, o Adriano, a Edivânia e o Caio, além de algumas figuras que iniciaram conosco a pensar Nosso Espaço (Erivandro, Júnior e Juciê).O trabalho serviu para que, ainda novos, pudéssemos encontrar e conhecer a complexidade de situações e realidades que cercam a vida dos vários de nós que compreende este todo multifacetado que é o Grande Bom Jardim.
A proporção de nossa energia não abarcou a demanda crescente e sua ampla complexidade, e nossa dinâmica abala-se também pela emergência de algumas etapas que urgem em nossa trajetória: trabalhar e/ou estudar. De março de 2004 a novembro de 2005 nos empenhamos na grande experiência nos marcou e passou a exigir nós mais cuidado e atenção com nosso lugar.
E caminhamos nós a trabalhar, outros a estudar e trabalhar. Não perdemos a preocupação e a inquietude que nos chamou ao mundo, parafraseando certo vídeo, “nunca fomos felizes parados”, certo disto, encontramos outras formas de questionar e agir, passamos por movimentos e ONG’s da cidade, experimentamos outros caminhos e fizemos mais encontros.
Em dada hora percebemos entre nós que nossas preocupações com a cidade e com o mundo estavam se dando inversamente, ao contrário do que começamos: estávamos agindo no centro da cidade, em outros espaços (isto não significa que não seja legítimo), entretanto, já havíamos outras vezes compreendido que nossa energia e nossa inquietude de mudança têm que começar a mexer onde estamos, com nossos amigos, vizinhos, colegas; tínhamos que dividir um pouco das oportunidades que tivemos (teatro, Edisca, bolsas de estudo, experiência de vida e vontade de mudar) no lugar que em mais dificilmente tais oportunidades resolvem chegar.
É dessa caminhada, que na calçada de certo de dia de diálogo meio que saudoso, resolvemos aprumar as reflexões e nos e encontrar para continuar andando juntos, por onde começamos e temos tanto a fazer: o Grande Bom Jardim, nosso espaço de vida e morada, o espaço da cidade de nos acolhe, que nos cabe mais plenamente. No final de 2007 sentamos, alguns de nós, na calçada, inquietos e desiludidos com nossa atuação em outros espaços, resolvemos pensar em outra forma de refletir e mobilizar mudanças. Dividimos a idéia com as figuras que estiverem em outros encontros e novas que se encontraram conosco, e os que acreditaram somaram e seguiram os passos desse novo caminho.
Depois de pensar, fazer encontros no CAIC (lugar do primeiro encontro), passar tardes de baixo da palhaça do Movimento de Saúde Mental do Bom Jardim, encantados com sua forma circular e o círculo de cultura de Paulo Freire, resolvemos integrar e dar forma à nossa inquietude.
De janeiro a fevereiro de 2008 só conversas, em março já tínhamos casa alugada, gente pensando, mais gente nos encontrando e ai começamos, na Rua Descartes Braga, nº 3207, na Granja Lisboa, o Movimento Nosso Espaço, casa que nos rendeu boas dores de cabeça para manter seu aluguel pago, assim como as contas conseqüentes.
Tomamos forma na pretensão de ser uma articulação de pessoas não institucional, não hierárquica, supra-partidária, atuando contra a desigualdade de classe e discriminação de gênero, de raça/etnia, de geração, de orientação sexual, com sua atuação e crenças voltadas para o Grande Bom Jardim; baseada na construção coletiva, buscamos nos aproximar e nos integrar ao grande grupo que é nossa comunidade, de forma que nossos intentos sejam compartilhados e nossas lutas divididas e construídas por TODOS/AS. E certos de que perseguir esta orientação é, é que damos ainda em caminhar ao ritmo da energia que dispomos.
Nas primeiras conversas reunimos a energia do Ícaro, Caio, Fábio, Juciê, Adriano e Ranyelle (estes ainda fruto do encontro do CAIC e do Teatro); Daniele (fruto do encontro da Edisca); Erivando, Eveline e Júnior (fruto da Casa de Cultura); Ana Maria e Samuel (do teatro e da comunidade, vizinhos); e Luciana (do movimento social e da vida partilhada); e nutrimos as idéias que norteiam a existência do Nosso Espaço.
Já temos um ano exato dos primeiros impulsos que nos levaram a ser o que hoje somos e temos 11 meses de atuação na comunidade, com as oficinas artísticas, com as reflexões lançadas, com o “Movimento Não Dá Mais” e com o jornal ‘Folha do Jardim’, e nos sobra inquietações para mexer com nossa comunidade, vamos seguir fazendo novos encontros na perspectiva de juntar forças na construção de um espaço de vida melhor para todos/as nós. Aos ficaram entre nós, mais força e aos que hão de vir, o espaço aberto. Aos companheiros/as que vão seguindo novos rumos força e que o sentido de felicidade ainda seja o mesmo, a vontade do movimento e o princípio da inquietude. Aqui vamos caminhando juntos, na medida de nossa disposição, como já suscitado.