Foi lançado no III Congresso Mundial de Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, realizado no Rio de Janeiro no final de novembro de 2008, o livro Os sete sentimentos capitais[1]. Este livro é resultado do esforço de vários atores em construir uma pesquisa que adentrasse em significados e pudesse "dar conta”, na medida do possível, do fenômeno da Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes em Fortaleza.
Este é um assunto que, particularmente, mobiliza minha atenção, da mesma forma que coloca em movimento minha indignação. Ao fazer sua leitura, também como parte de um trabalho, deparo-me com alguns números que são significados para nós moradores do Grande Bom Jardim.
Vejamos: a pesquisa envolveu o estudo com 328 crianças e adolescentes, nos vários espaços, territórios geográficos e simbólicos de nossa cidade. Dos dados colhidos, através de questionário e entrevistas de campo, 9,1%[2] afirmam que moram nos bairros que compõem o Grande Bom Jardim. Isso em proporção representa dizer que o Grande Bom Jardim, logo depois da Barra do Ceará com 13,1%, é um dos principais lugares de Fortaleza onde as meninas e os meninos explorados sexualmente, em caráter comercial, moram, é um dos principais lugares da cidade que tem, entre suas crianças e adolescentes, vítimas da exploração sexual, que servem ao comércio sexual e têm seus direitos humanos, sobretudo os direitos sexuais e o direito ao desenvolvimento, fortemente agredidos, negados.
Somente o bairro Bom Jardim, analisado separadamente, representa 4,9% do total de entrevistados/as, ficando, ainda assim, atrás da Barra do Ceará. Não se trata de se estabelecer um ranking, mas de se observar a expressão dessa problemática na realidade das crianças e adolescente de nossa comunidade, em que apenas um bairro, no caso o Bom Jardim, aponta uma significativa participação na expressão do fenômeno, e quando somamos a toda a região a dimensão preocupa mais.
É preciso que, de posse desses dados, possamos mobilizar uma atenção para este problema que objetivamente faz parte do nosso contexto social. É exigido que tomemos partido dessa e outras realidades que se somam na caracterização de situações que agridem nossa dignidade. E não esqueçamos também que da população de rua da cidade, dos meninos e meninas que circulam, não necessariamente moram, nas ruas de Fortaleza, a maioria tem sua origem do Grande Bom Jardim. Isso deve nos indignar e acionar em nós atitudes.
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