domingo, 21 de dezembro de 2008

Um pouco sobre nossa caminhada






Nós já andamos juntos ‘tem um bom pedaço’. Aqui, um bom pedaço tem a pretensão de significar o percurso de um caminho andado e servido à vida na ânsia de sua descoberta. Pois bem, já tem um tempo em que nós andamos juntos, vez por outra experimentamos novos caminhos, entram novas pessoas para andar conosco, mas o fato é que faz um bom pedaço que nos motivamos como grupo e partilhamos o anseio da descoberta de um mundo vasto de possibilidades, sobretudo as que parecem que não foram feitas para nós, e também as que inspiram, ou possam inspirar, mudanças de onde estamos.
O princípio aqui é ousar fazer da caminhada conjunta a força para mexer no que nos inquieta: somo inquietos e esta marca que vai caracterizar a natureza de nossa caminhada.
A história de nossa inquietude talvez seja um misto de encontros, encontros que perpassam nossas passagens pelo teatro, pela dança, pela arte, pelo CAIC, pela Edisca, pelo movimento social e pelo nosso bairro. Para melhor organizar o raciocínio, tentarei seguir uma cronologia, não muito ortodoxa e sem o compromisso com as datas, para tentar organizar um pouco de nosso percurso e da formação do Nosso Espaço enquanto Movimento.
Primeiro, talvez, estudar (a partir de 1999) no CAIC – Maria Alves Carioca fez com que muitos de nós encontrássemos, nos aproximássemos e compartilhássemos perspectivas de amigos, ora com causas política - no grêmio estudantil - , ora, principalmente, na disposição e na aptidão pelo teatro: este foi um dos encontros mais fundamentais.
Seguimos no teatro, porta ampla de descobertas, de curiosidade, de experimentação, nossa, com o de mais possível em nós mesmos; fizemos novos encontro e as primeiras observações sobre nossa comunidade, por meio de nossos esquetes tímidos, carentes de rigor profissional, mas feitos de com muita vontade, uma vontade imensurável de acertar, e podemos dizer, hoje, que bravamente acertamos: acertamos porque insistimos em continuar.
Nós seguimos para a Edisca (no final de 2002), apenas alguns, que se configurou como um espaço oportuno para que ampliássemos nossa experiência com a arte, com algumas reflexões importantes sobre nós, o mundo e nosso lugar de morada: nossa comunidade. Foi importante, também, para que fizéssemos mais encontros e tivéssemos muitas oportunidades que, de certo, nos serão relevantes toda a vida.
Realizados esses encontros com pessoas e idéia, começamos nossa primeira grande experiência: a Casa de Cultura (início de 2004). Foi um espaço alimentado pela força de nós, ainda adolescentes, dinamizando uma casa na Granja Lisboa, em parceria com a Associação das Prostitutas do Ceará, com diversas oficinas artísticas e trazendo várias reflexões sócio-culturais sobre o mundo e nossa comunidade. Nesta experiência contamos com a força de alguns dos que hoje fazem o Movimento Nosso Espaço, como a Eveline, o Ícaro, a Daniele, o Adriano, a Edivânia e o Caio, além de algumas figuras que iniciaram conosco a pensar Nosso Espaço (Erivandro, Júnior e Juciê).O trabalho serviu para que, ainda novos, pudéssemos encontrar e conhecer a complexidade de situações e realidades que cercam a vida dos vários de nós que compreende este todo multifacetado que é o Grande Bom Jardim.
A proporção de nossa energia não abarcou a demanda crescente e sua ampla complexidade, e nossa dinâmica abala-se também pela emergência de algumas etapas que urgem em nossa trajetória: trabalhar e/ou estudar. De março de 2004 a novembro de 2005 nos empenhamos na grande experiência nos marcou e passou a exigir nós mais cuidado e atenção com nosso lugar.
E caminhamos nós a trabalhar, outros a estudar e trabalhar. Não perdemos a preocupação e a inquietude que nos chamou ao mundo, parafraseando certo vídeo, “nunca fomos felizes parados”, certo disto, encontramos outras formas de questionar e agir, passamos por movimentos e ONG’s da cidade, experimentamos outros caminhos e fizemos mais encontros.
Em dada hora percebemos entre nós que nossas preocupações com a cidade e com o mundo estavam se dando inversamente, ao contrário do que começamos: estávamos agindo no centro da cidade, em outros espaços (isto não significa que não seja legítimo), entretanto, já havíamos outras vezes compreendido que nossa energia e nossa inquietude de mudança têm que começar a mexer onde estamos, com nossos amigos, vizinhos, colegas; tínhamos que dividir um pouco das oportunidades que tivemos (teatro, Edisca, bolsas de estudo, experiência de vida e vontade de mudar) no lugar que em mais dificilmente tais oportunidades resolvem chegar.
É dessa caminhada, que na calçada de certo de dia de diálogo meio que saudoso, resolvemos aprumar as reflexões e nos e encontrar para continuar andando juntos, por onde começamos e temos tanto a fazer: o Grande Bom Jardim, nosso espaço de vida e morada, o espaço da cidade de nos acolhe, que nos cabe mais plenamente. No final de 2007 sentamos, alguns de nós, na calçada, inquietos e desiludidos com nossa atuação em outros espaços, resolvemos pensar em outra forma de refletir e mobilizar mudanças. Dividimos a idéia com as figuras que estiverem em outros encontros e novas que se encontraram conosco, e os que acreditaram somaram e seguiram os passos desse novo caminho.
Depois de pensar, fazer encontros no CAIC (lugar do primeiro encontro), passar tardes de baixo da palhaça do Movimento de Saúde Mental do Bom Jardim, encantados com sua forma circular e o círculo de cultura de Paulo Freire, resolvemos integrar e dar forma à nossa inquietude.
De janeiro a fevereiro de 2008 só conversas, em março já tínhamos casa alugada, gente pensando, mais gente nos encontrando e ai começamos, na Rua Descartes Braga, nº 3207, na Granja Lisboa, o Movimento Nosso Espaço, casa que nos rendeu boas dores de cabeça para manter seu aluguel pago, assim como as contas conseqüentes.
Tomamos forma na pretensão de ser uma articulação de pessoas não institucional, não hierárquica, supra-partidária, atuando contra a desigualdade de classe e discriminação de gênero, de raça/etnia, de geração, de orientação sexual, com sua atuação e crenças voltadas para o Grande Bom Jardim; baseada na construção coletiva, buscamos nos aproximar e nos integrar ao grande grupo que é nossa comunidade, de forma que nossos intentos sejam compartilhados e nossas lutas divididas e construídas por TODOS/AS. E certos de que perseguir esta orientação é, é que damos ainda em caminhar ao ritmo da energia que dispomos.
Nas primeiras conversas reunimos a energia do Ícaro, Caio, Fábio, Juciê, Adriano e Ranyelle (estes ainda fruto do encontro do CAIC e do Teatro); Daniele (fruto do encontro da Edisca); Erivando, Eveline e Júnior (fruto da Casa de Cultura); Ana Maria e Samuel (do teatro e da comunidade, vizinhos); e Luciana (do movimento social e da vida partilhada); e nutrimos as idéias que norteiam a existência do Nosso Espaço.
Já temos um ano exato dos primeiros impulsos que nos levaram a ser o que hoje somos e temos 11 meses de atuação na comunidade, com as oficinas artísticas, com as reflexões lançadas, com o “Movimento Não Dá Mais” e com o jornal ‘Folha do Jardim’, e nos sobra inquietações para mexer com nossa comunidade, vamos seguir fazendo novos encontros na perspectiva de juntar forças na construção de um espaço de vida melhor para todos/as nós. Aos ficaram entre nós, mais força e aos que hão de vir, o espaço aberto. Aos companheiros/as que vão seguindo novos rumos força e que o sentido de felicidade ainda seja o mesmo, a vontade do movimento e o princípio da inquietude. Aqui vamos caminhando juntos, na medida de nossa disposição, como já suscitado.

Um comentário:

  1. O Nosso Espaço conquista mais um espaço, o digital. Isso sinifica, acima de tudo, um lugar a mais para popularizar nossa pauta de luta.

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